sexta-feira, janeiro 23, 2009

FIM DA TRIOLOGIA - Leo, Rita & Maria - Adeus Leo

Hoje a noite adormeceu sem brilho. O dia despertou num suspiro tenso gritando em surdina o que os olhos teimam em nao querer ver.
Nao resta mais nada.
Fecho os olhos e encerro os sentidos na palma da mao. Tudo me fere. Tudo me magoa. A sombra das memorias derramam sobre mim uma cortina de nostalgia que me condena à eterna imagem das tuas mãos. Esgotada e sem recursos deixo-me adormecer na inercia das horas e confino ao tempo o destino dos meus passos.
A alma apagou-se e em seu lugar apenas ficou o vazio e o silêncio. Como uma catástrofe que devasta uma cidade e apenas deixa escombros sujos e gastos pela poeira dos dias. Escombros e ruinas de um passado talhado de sonhos e sorrisos. Nao restou nada. Nem um so pilar sobre aquela que foi outrora a majestosa paisagem que desenhámos na palma suada das nossas mãos.
Sei que sou capaz de me erguer de novo. De resistir a todas as catástrofes. Mas nao tenho mais força nem ilusoes. Nao ficou nada daquilo que um dia possa ter figurado diante dos meus olhos. Sei que sou forte, mas nao o suficiente para suportar o oceano que nos separa.
Nao quero com isto dramatizar a vida ou riscar a minha existencia, apenas quero matizar a minha resignaçao e deixar escrito o que todos os días traço com lagrimas na almofada quando as insónias me condenam à eterna memoria de ti. De tudo o que era teu e levaste. De tudo o que era só teu e agora sao apenas cinzas fragmentadas numa linha de fumo branca riscada no céu.
O que ficará quando as lágrimas secarem e o sal exposto na face queimar os gestos cumplices pintados de luar? O que fica das noites consumidas pelas gargalhadas que pintavas no meu olhar quando te sorria? Como apagar o oceano profundo que nos condena à eterna condiçao da matéria? Saberá o tempo varrer o sangue das pegadas vazias que ecoam nos sonhos e apagar os rituais tingidos na pele? Saberá o vento soprar as entranhas do pensamento e cuspir as mágoas cravadas no fundo dos olhos? Saberá a terra tapar o abismo de medos que abriste quando partiste? Saberei eu encontrar de novo a magia dos duendes e das fadas que me esculpiram de sonhos de criança? Ou serei apenas o eterno sono de menino com medo da escuridão.
Acabarei assim... como o resto de alma do sonho de alguém.