Vestia a singular indiferença dos ombros, típica daqueles que proclamam para si a ausência dos sorrisos. Trazia no rosto o leito das lágrimas esgotadas nas noites de insónia e nos olhos as angústias dos silêncios lapidados no compasso triste das horas.
Os seus gestos denunciavam as memórias agrestes que o tempo insiste em recordar e as palavras proclamavam a mágoa guardada na cinza dos sonhos.
Caminhava quase invisível aos olhos, indivisivél dos passos marcados no chao com o desalento próprio dos resignados e cansados de lutar.
Nos sorrisos eminentes do seu rosto entregue ao sofrimento, apenas via um espasmo de comoção às palavras queimadas entre a entropia das tertúlias riscadas sobre um balcao de copos sujos.
Sem que deixe perceber, rodeio o seu olhar obtuso com constantes imagens pintadas de sonhos de crianças, e histórias coloridas com raminhos de hortela.
Talvez ela não saiba, mas as lágrimas, quando olhamos o sol, criam um arco-iris na retina e fazem-nos acreditar no voo dos tritões e das sereias guardados no fundo do mar.
Talvez ela não saiba que mesmo a mais escura das sombras esconde o relexo de uma luz gigante que nos aquece quando deixamos de acreditar.
Talvez ela não saiba... Ou talvez ela não queira saber.
4 comentários:
que lindo zé...
Só quem de conhece a alma sabe a impressionante sensibilidade que escondes atrás da imagem dura e despreocupada que te rodeia. Tu sim és especial...
... és tão bonita minha abelhinha...
"Talvez ela não saiba... Ou talvez ela não queira saber." mas sente certamente...beijo-te
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