domingo, setembro 27, 2009

Flamenco y otras aves

Mais uma vez partilho com vocês um daqueles momentos memoráveis da minha estadia em terras de Castilha. Local: Contraclub. A convite do meu querido amigo Pedro (um dos músicos envolvidos nesta maravilhosa demonstração de boa fusão entre o flamenco clássico e a contemporânea forma de expressar sentimentos). Trata-se de um espectáculo de rara beleza com uma estética musical singular. A união de instrumentos como o violino, flauta transversal, saxofone, guitarra flamenca, baixo eléctrico, percursão... uma voz embaladora e uma bailarina com uma linguagem corporal indescritivel. Deixo-vos uma pequena amostra. (Gracias Pedrito!)





quarta-feira, setembro 09, 2009

Menina-descalça, menina-mulher...

Meus queridos e verdadeiros amigos, a vocês dedico estas palavras de gratidão e reconhecimento:

26 de Julho de 2009. Dia em que cumpria o meu 30º aniversário. Apesar de nem todos poderem comparecer por compromissos diversos, é comovedor concluir o número considerável de pessoas que se apresentou a esta reunião singular. A todos os que estiveram durante e depois deste jantar (cerca de 52 pessoas) dedico a minha mais sincera gratidão. Vindos de todas as partes da peninsula ibérica e ilhas... Os vossos sorrisos fizeram-me acreditar por momentos que vale a pena estar aqui e que não podemos deixar de acreditar nesse valor supremo chamado amizade.

E assim, em alegre comunhão encetámos uma longa caminhada de boémia e euforía. Tentem lá recordar estes momentos tão especiais. O 1º corresponde a uma dedicatória pessoal que vos fiz com uma música por mim composta:




...e o 2º com um momento hilariante apresentado pelo famoso quarteto Sara, Teresa e Joana Macedo (voz) e Maria Brito (piano):




Muitos de vocês me têm perguntado o porquê do meu silêncio, da minha ausência. Por isso hoje resolvi escrever-vos.

O dia amanheceu em solene alvoroço. Entre o habitual despertar das agitações matutinas, uma luz tímida marcava o inicío de mais um dia regular. Nem mais um minuto na cama. Segue-se o velho caminho interminável dos passos lentos e dos olhos rasgados de sono perdidos no granito sujo das ruas. Os pés marcam os passos de uma massa de sangue, rendida à inevitável curva do tempo. O corpo dilacerado por insónias, arrasta a sua sombra sem vida por entre os murmúrios impacientes dos trauseuntes. Não há luz nem brilho, nem côr ou vida. Os pássaros já não marcam ogivas de vento, e as copas das árvores já não dançam o seu esplendoroso baile de clorofila. As mãos transpiradas antecipam as chuvas ácidas que lapidam o cume das montanhas. Uma brisa agreste desenha a inevitável antecipação do outono. E o mundo indiferente ao seu olhar segue rotundo e impaciente a compasso marcado pela translação das horas. Enquanto isso o ritmo cardíaco que embala o seu pensamento segue a sua própria indignação e os sinais das ogivas de sorrisos forçados irrompem no seu espaço, indiferentes ao consumado egoismo dos humanos. Sobeja indiferença guarda na esfera de aço que esculpe o seu entorno. E as reservas de ar que escondia são agora fragmentos poluidos de uma inerte convergência de escassos recursos injustificados. O espelho devolve-lhe a imagem dissecada em sussuros das mesas dos cafés. Dos bares. Das praças habitadas por abutres famintos de histórias ambiguas e passiveis de especulaçoes hilariantes. As olheiras esfumadas no caminho desgastado das lágrimas, não enganam as etiquetas atribuidas aos capitães dos sonhos. Eufemisam a dor alheia em epopeias ortodoxas sem objectivos relevantes. Eras tu... Menina dos pés descalços. Menina que subias as árvores com um sorriso de Natal. Menina dos olhos morenos que enganavas a vida com uma dança na chuva. Menina dos sorrisos de Natal que pintavas com rubi as lágrimas que caiam no rosto dos que sabias longe de ti. Menina de cristal escondida numa pétala de margarida plantada numa crista de orvalho outonal. Menina dos pés descalços que adormeceste na pedra fria desse abismo que teceram ao teu redor. Menina perdida no deserto fúnebre dos silêncios que calaram a tua canção do mar . Menina que partiste na espuma das ondas e deixaste para trás os sonhos dos meninos que caminhavam descalços. Os espinhos cravados nos pés fizeram-te sair dessa feroz guerra de palavras pintadas de mel. Menina das pedras frias que embalas as lágrimas nas páginas dos jornais. Menina, que te deixaste adormecer no brilho pálido do luar com os teus sapatinhos de hortelã e apagaste as estrelas que embalavam a tua dor. As tuas olheiras esfumadas escondem os olhos morenos que enganavam a vida com danças na chuva. E agora menina, és mulher. E agora calçada terás que caminhar nesses espinhos que deixaste no caminho e te despertou desse sonho de menina sem rua. Menina-mulher, agora és assim... um fragmento de alma perdido no sonho descalço de alguém.