quarta-feira, setembro 09, 2009

Menina-descalça, menina-mulher...

Meus queridos e verdadeiros amigos, a vocês dedico estas palavras de gratidão e reconhecimento:

26 de Julho de 2009. Dia em que cumpria o meu 30º aniversário. Apesar de nem todos poderem comparecer por compromissos diversos, é comovedor concluir o número considerável de pessoas que se apresentou a esta reunião singular. A todos os que estiveram durante e depois deste jantar (cerca de 52 pessoas) dedico a minha mais sincera gratidão. Vindos de todas as partes da peninsula ibérica e ilhas... Os vossos sorrisos fizeram-me acreditar por momentos que vale a pena estar aqui e que não podemos deixar de acreditar nesse valor supremo chamado amizade.

E assim, em alegre comunhão encetámos uma longa caminhada de boémia e euforía. Tentem lá recordar estes momentos tão especiais. O 1º corresponde a uma dedicatória pessoal que vos fiz com uma música por mim composta:




...e o 2º com um momento hilariante apresentado pelo famoso quarteto Sara, Teresa e Joana Macedo (voz) e Maria Brito (piano):




Muitos de vocês me têm perguntado o porquê do meu silêncio, da minha ausência. Por isso hoje resolvi escrever-vos.

O dia amanheceu em solene alvoroço. Entre o habitual despertar das agitações matutinas, uma luz tímida marcava o inicío de mais um dia regular. Nem mais um minuto na cama. Segue-se o velho caminho interminável dos passos lentos e dos olhos rasgados de sono perdidos no granito sujo das ruas. Os pés marcam os passos de uma massa de sangue, rendida à inevitável curva do tempo. O corpo dilacerado por insónias, arrasta a sua sombra sem vida por entre os murmúrios impacientes dos trauseuntes. Não há luz nem brilho, nem côr ou vida. Os pássaros já não marcam ogivas de vento, e as copas das árvores já não dançam o seu esplendoroso baile de clorofila. As mãos transpiradas antecipam as chuvas ácidas que lapidam o cume das montanhas. Uma brisa agreste desenha a inevitável antecipação do outono. E o mundo indiferente ao seu olhar segue rotundo e impaciente a compasso marcado pela translação das horas. Enquanto isso o ritmo cardíaco que embala o seu pensamento segue a sua própria indignação e os sinais das ogivas de sorrisos forçados irrompem no seu espaço, indiferentes ao consumado egoismo dos humanos. Sobeja indiferença guarda na esfera de aço que esculpe o seu entorno. E as reservas de ar que escondia são agora fragmentos poluidos de uma inerte convergência de escassos recursos injustificados. O espelho devolve-lhe a imagem dissecada em sussuros das mesas dos cafés. Dos bares. Das praças habitadas por abutres famintos de histórias ambiguas e passiveis de especulaçoes hilariantes. As olheiras esfumadas no caminho desgastado das lágrimas, não enganam as etiquetas atribuidas aos capitães dos sonhos. Eufemisam a dor alheia em epopeias ortodoxas sem objectivos relevantes. Eras tu... Menina dos pés descalços. Menina que subias as árvores com um sorriso de Natal. Menina dos olhos morenos que enganavas a vida com uma dança na chuva. Menina dos sorrisos de Natal que pintavas com rubi as lágrimas que caiam no rosto dos que sabias longe de ti. Menina de cristal escondida numa pétala de margarida plantada numa crista de orvalho outonal. Menina dos pés descalços que adormeceste na pedra fria desse abismo que teceram ao teu redor. Menina perdida no deserto fúnebre dos silêncios que calaram a tua canção do mar . Menina que partiste na espuma das ondas e deixaste para trás os sonhos dos meninos que caminhavam descalços. Os espinhos cravados nos pés fizeram-te sair dessa feroz guerra de palavras pintadas de mel. Menina das pedras frias que embalas as lágrimas nas páginas dos jornais. Menina, que te deixaste adormecer no brilho pálido do luar com os teus sapatinhos de hortelã e apagaste as estrelas que embalavam a tua dor. As tuas olheiras esfumadas escondem os olhos morenos que enganavam a vida com danças na chuva. E agora menina, és mulher. E agora calçada terás que caminhar nesses espinhos que deixaste no caminho e te despertou desse sonho de menina sem rua. Menina-mulher, agora és assim... um fragmento de alma perdido no sonho descalço de alguém.

12 comentários:

micaelcarvalho disse...

Completamente fascinado pela imensidão de pessoas que amam a Menina que existe em ti!

Menina fortunosa,
que pinta sorrisos com seus dedos, que enriquece os nossos dias,
que salta em cima de nuvens como se fossem nenúfares.

menina Maria....

(momentos esculpidos com fortes explusões entre a pedra e o aço)

Beijos...

Anónimo disse...

Minha menina-descalça, menina-mulher, com ou sem sapatos serás sempre essa menina-mulher singular quetodos nós temos o prazer de conhecer... só tu justificas tamanha movimentaço...

liliput disse...

MARYS!!!!! A tua faste parecia um casório!!! I-N-E-S-Q-U-E-C-I-V-E-L... Até o bolo era de noiva!!! espero bem é que nunca tenhamos q celebrar esse momento, seria muito triste. ;) a não ser que.... capice?

Sara Guimarães disse...

Palavras para quê?
És única e é um gosto ter-te na minha vida. (Já estou mais próximo!)
sara

Sara Guimarães disse...

Palavras para quê?
És única e é um gosto ter-te na minha vida. (Já estou mais próximo!)
sara

rute disse...

Quais as palavras certas para comentar , nao este post mas tudo o que todos nos vivemos contigo.
Cada um com o seu momento , cada um com a sua intesidade.
Embora eu seja um pouco apagadita nisto a que chamamos sentimentos e demonstraçoes dos mesmos , embora os meus abraços ainda sejam sempre acompanhados pelas pancadinhas de embaraço , eu sei que tu sabes que és muito muito especial para mim .

Obrigada

Beijossssss e saudadesssssss

Rute

indigo des urtigues disse...

Foi tão lindo!

Beijos menina!


miss you :)

Maria Brito disse...

Meus meninos... vocês deixam-me sem palavras!

. disse...

queria estar...fiz por estar...estás sempre no meu coração, queração!

Anónimo disse...

Senhora de tantos nomes, a quem tuas mãos, já a tantos encantaram estas mesmas notas musicais!.... Lembra-te que o mundo é redondo, que tudo o que plantamos, também colhemos. Faz um esforço para te recordares de todos os gestos das tuas mãos, tenta saber se o mundo será para sempre assim, para ti generoso. Encontrarás dentro de ti, a vergonha e o medo. Não vale a pena, estas perdoada. Tenta apenas ser melhor. Não voltar a pecar de tal forma, incompreensível.

Maria Brito disse...

As minhas mãos não tentam encantar ninguém. São muitas vezes a única maneira de dizer aquilo que os lábios não conseguem dizer. O mundo não é redondo. O planeta terra sim. O mundo/universo é infinito e só termina quando deixamos de sonhar. O mundo será para mim generosa enquanto eu for generosa para o mundo. E por todos os defeitos que possa ter, nunca o deixarei de ser. Tenho vergonha de muita coisa. Tenho muitos medos. Sem dúvida. Mas nunca isso será uma barreira para ser feliz. Porém nunca tive vergonha de publicar neste blog as criticas a mim dirigidas. Também nunca tive vergonha de pedir perdão. E se alguma vez o fui, a todos as minhas desculpas, incluindo a ti, ilustre anónimo com uma ortografia esmerada e cuidada.

lampâda mervelha disse...

Estás em cada nota...